Gestão de pessoas
O funcionamento da Atenção Básica e as atribuições de todos os profissionais que podem compor a equipe foram redefinidos pela PORTARIA Nº 2.488 de 2011, que aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica, para a Estratégia Saúde da Família (ESF) e o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) (BRASIL, 2011). Recomendamos que esse documento seja de conhecimento da equipe e que norteie a estrutura do processo de trabalho dos profissionais e serviços.
Contudo, o processo de ampliação dos Serviços que compõem a Atenção Primária à Saúde no SUS tem ocorrido nos últimos anos por intermédio de grandes mudanças nas formas de contração e vínculo dos profissionais. Diferentes modalidades de parcerias entre o Poder Público, instituições privadas e organizações sociais têm sido realizadas com muitas possibilidades de distorções. Em um município, e até mesmo em um único serviço, podemos obervar trabalhadores contratados diretamente pelo Estado, podendo ser servidor estatutário, servidor celetista ou temporário; ou de forma indireta, por meio de Organizações Sociais, Organizações Civis de Interesse Público, Instituições Filantrópicas ou Privadas (BRASIL, 2007).
Nesse cenário, há grandes diferenças salariais e de benefícios para a mesma categoria profissional, e níveis de exigência e qualidade nos serviços muito desiguais. Sem a possibilidade de tratar esse assunto com a profundidade e complexidade devida, nos ateremos ao fato desse cenário ter aumentado às dificuldades na gestão dos recursos humanos, e gerado insatisfação, sofrimento e desmotivação para muitos trabalhadores.
As principais dificuldades de gestão do trabalho coletivo em saúde dizem respeito: à relação entre sujeitos individuais e coletivos; à história das profissões de saúde e o seu exercício no cenário do trabalho coletivo institucionalizado; e à complexidade do jogo político e econômico que delimita o cenário das situações de trabalho (SCHERER; PIRES; SCHWARTZ, 2009, p. 725). |
Não conseguiremos apresentar soluções pontuais e objetivas sobre a gestão de pessoas, mas sugerimos que você faça alguns questionamentos no seu cotidiano de trabalho:
Quais as modalidades de contratação?
Quais as facilidades e dificuldades relacionadas com cada tipo de contratação?
Há diferenças salariais e de benefícios para uma mesma categoria profissional?
As cobranças e qualidade do serviço são diferentes de acordo com o tipo de contratação?
O ambiente de trabalho é saudável?
Os trabalhadores sentem-se motivados?
O trabalho em equipe acontece na prática?
Os profissionais têm consciência de suas atribuições para com o SUS e usuários do Serviço?
Os trabalhadores têm os conhecimentos e habilidades necessárias para exercerem suas práticas com qualidade?
Os trabalhadores estão comprometidos com as necessidades das pessoas e coletividades do território?
Tendo por princípio a gestão mais horizontal possível, as respostas a essas questões necessitam de reflexão e ação conjunta. Um bom ambiente de trabalho é uma construção coletiva. Para além das questões que extrapolam a governabilidade local, podemos valorizar as pessoas e seu trabalho, manter o máximo possível de autonomia para cada profissional, nos unir para criar soluções às dificuldades que envolvem nosso trabalho, compartilhar experiências e aprender juntos. Felizmente, bons sentimentos e disposição também podem ser contagiantes.
Entendemos as dificuldades de se abordar as relações profissionais no Serviço frente a tantas outras demandas que congestionam nosso dia a dia. Mas não enxergar e valorizar essa dimensão do trabalho nos mantém em um indesejável ciclo vicioso: profissionais cada vez mais desmotivados e adoecidos, incapazes de oferecer assistência de qualidade às pessoas e coletividades do território, que irão exigir do serviço e profissionais o direito à assistência com qualidade, aumentando a pressão sobre os profissionais que não se sentem amparados no Serviço.