Algumas características importantes da gestão

Uma vez que entendemos que a gestão dos Serviços Públicos de saúde na Atenção Básica está ancorada nos princípios e diretrizes dos SUS, e que sofre influências macropolíticas, evoluiremos para discutir questões mais práticas. Pautados na nossa experiência, ousamos destacar três características estruturantes desse tipo de gestão:

  • 1) Foco nas pessoas/usuários;

  • 2) Sensibilidade; e

  • 3) Dinamismo.

Pode parecer redundância, mas devemos constantemente lembrar de que o nosso trabalho deve estar focado na produção de serviços de saúde com qualidade às pessoas. Sendo que serviços, neste contexto, tem uma característica imaterial e relacional, se aproximando do que Merhy (1994) chama de tecnologia leve. O foco do nosso trabalho deve estar ajustado para as pessoas e coletividades que cuidamos, suas necessidades, sofrimentos, seus desejos e projetos de vida.

A sensibilidade é fundamental para fazermos uma boa leitura das necessidades e problemas a serem enfrentados com o nosso trabalho. O ponto de partida pode ser a avaliação das potencialidades e dificuldades da nossa equipe de trabalho e serviço. Não conseguiremos atingir objetivos que estejam além da nossa capacidade. No entanto, não podemos nos conformar com as limitações, mas sim trabalhar para diminuí-las. Posteriormente, devemos estar atentos às necessidades das pessoas e comunidade que assistimos. Não considerar as especificidades individuais, sociais e culturais pode nos levar a promover ações em saúde que não fazem sentido para as pessoas e coletividades, e que consequentemente não produzirão os resultados que esperamos.

E por último, o dinamismo serve para nos tirar da "zona de conforto". Tudo à nossa volta está mudando constantemente e isso quer dizer que reproduzir por anos uma mesma ação provavelmente é um grande equívoco. Nosso trabalho deve ser dinâmico o suficiente para se adequar:

  • Às necessidades das pessoas e territórios que assistimos;

  • Às mudanças das redes de atenção;

  • Às novas tecnologias em saúde;

  • Às mudanças de estratégias dos diferentes níveis de gestão em saúde; e

  • Às eventualidades, como uma epidemia, desastres ambientais, entre outros.

No entanto, ainda observamos em muitos serviços públicos de saúde estruturas de gestão rígidas, que definem hierarquias verticalizadas, processos decisórios centralizados com pouca ou nenhuma possibilidade para os trabalhadores participarem do processo de tomada de decisão. Como consequência, vemos demasiada burocratização do trabalho, profissionais desmotivados e serviços que funcionam em descompasso com as necessidades da população e território adstrito.

 

A seguir deixamos algumas definições de autores sobre administração desde o século XX, quando nasceu a administração científica, somente para relembrar a base do processo de trabalho e discutir uma ferramenta facilitadora.

• "O gerenciamento consiste em executar todas as atividades próprias de uma organização empresarial ou não, como meios para alcançar a eficiência e a eficácia e com isto obter a satisfação dos objetivos individuais e organizacionais." (Chiavenato, 1999).

• "O gerenciamento de serviços em nível local – USB/ESF – se dá por meio de pessoas de várias categorias profissionais, tendo como princípio a interdisciplinaridade e a coordenação das ações de saúde de natureza, assistenciais, clínicas, educativas e gerenciais, atendendo aos indicadores epidemiológicos e sociais da comunidade." (Reflexão a partir da prática).

• "Ainda, gerenciamento de serviços de saúde diz respeito a uma unidade social deliberadamente construída para atingir determinados objetivos. Resulta em uma combinação de pessoas, recursos, utilização de tecnologias leves, que conduzam aos objetivos traçados." (Junqueira, 1990).