O tema Crescimento e desenvolvimento nos ensina que, embora o peso do bebê esteja no Percentil 3, significando que apenas 3% das crianças normais apresentam peso menor, a estatura está no Percentil 50 (dentro da média para a idade), mostrando que o comprometimento provavelmente não vem ocorrendo há muito tempo e que não é tão intenso, pois o comprometimento da estatura é que indica alterações nutricionais mais prolongadas, o que indica que Felipe estava correto em sua avaliação: "Sofia está mesmo um pouco abaixo do peso, mas podemos recuperar".
No final, o caso refere que Sofia ganhou 500 gramas no último mês, o que, de acordo com o tema Crescimento e desenvolvimento, além de tranquilizar o profissional de saúde, esse ganho ponderal pode estar refletindo uma melhora na dinâmica familiar, comentando que é frequente o surgimento de distúrbios alimentares na infância como reflexo de desestruturação e desorganização familiar. O conhecimento da rotina alimentar da criança contribui para a avaliação das possíveis relações com o ganho ponderal e também para o entendimento da dinâmica familiar, favorecendo uma abordagem integral da criança e, consequentemente, para que as orientações alimentares sejam adequadas à realidade da família.
No tema Crescimento e desenvolvimento, o crescimento é caracterizado como um processo dependente de fatores genéticos, modulado por características nutricionais, socioeconômicas, ambientais e emocionais, apresentando a importância da anamnese e do exame físico, as formas para avaliação do crescimento, o uso da antroprometria, índices, indicadores e classificações mais utilizados, curvas de crescimento, crescimento nos dois primeiros anos de vida, crescimento de dois a dez anos de idade e velocidade de crescimento, procurando instrumentalizar os profissionais da APS em questões relevantes relativas ao crescimento.
Ainda sobre o crescimento de Sofia, é importante destacar que, de acordo com o caso, a equipe desenvolvia grupos de pesagem, embora não haja muitos detalhes desses grupos – provavelmente eram momentos criados pela equipe para avaliação das crianças que apresentavam alguma alteração ponderal, em que questões relativas ao tema eram discutidas com os responsáveis e eram tomadas as medidas antropométricas para o devido acompanhamento, sendo uma estratégia já utilizada por muitas equipes.
A questão nutricional é uma questão muito importante para ser trabalhada por todos os profissionais da Atenção Primária. Para subsidiar os profissionais, o Ministério da Saúde tem publicado manuais que abordam o assunto de forma pormenorizada, visando dar apoio às ações de promoção do aleitamento materno, subsídios às ações de promoção da alimentação saudável e à prevenção das carências de micronutrientes. A publicação "Saúde da Criança – nutrição Infantil: aleitamento materno e alimentação complementar" (BRASIL, 2009a) discorre sobre aspectos importantes relacionados ao aleitamento materno, inclusive seu manejo em situações especiais e a alimentação complementar para as crianças menores de dois anos, destacada no texto "Dez Passos para uma Alimentação Saudável: Guia Alimentar para Crianças Menores de dois anos", certamente uma obra de referência para os profissionais que atuam nas Equipes de Saúde da Família, bem como o manual, também do Ministério da Saúde, que aborda as "Carências de Micronutrientes" (BRASIL, 2007).
Embora o caso faça menção ao trabalho dos outros membros da equipe, não apresenta pormenores das ações desenvolvidas por esses profissionais. Talvez seja importante ressaltar que os(as) enfermeiros(as) podem desempenhar um papel muito importante nesses casos desde a visita domiciliar na primeira semana após o parto, verificando as condições em que se encontram a mãe e o bebê, avaliando possíveis dificuldades relativas ao aleitamento materno, esclarecendo dúvidas da mãe em relação ao cuidado com a criança, identificando riscos e vulnerabilidades familiares, rede social primária de apoio (família..), desejos e necessidade de cuidados, cuidado com coto umbilical, visando prevenir tétano neonatal, detecção, prevenção e controle da icterícia neonatal fisiológica, imunização, puericultura, exame do pezinho, enfim, oferecendo apoio e orientação à mãe (BRASIL, 2005).
Além disso, é importante que toda a equipe esteja sempre atenta para avaliar o Cartão da Criança em todas as oportunidades, seja nas visitas domiciliares, seja nas idas à Unidade de Saúde, verificando a curva de crescimento, avaliando o desenvolvimento e o estado vacinal, desenvolvendo tanto atividades educativas de incentivo ao aleitamento materno quanto sobre questões nutricionais. O período de transição do aleitamento materno para a introdução de novos alimentos (início do desmame) é um período crítico, no qual podem ocorrer os distúrbios nutricionais. O controle dos desvios alimentares e nutricionais pode prevenir várias doenças tanto na infância como na futura vida adulta, como as deficiências nutricionais, as doenças crônicas, sobrepeso e obesidade, devendo portanto ser foco da atenção de toda a equipe como um meio eficiente de promoção da saúde (BRASIL, 2005).
De acordo com o manual do Ministério da Saúde (BRASIL, 2005), Sofia pode ser considerada uma criança em risco, pelo fato de ser menor de seis meses e não mamar mais no peito, por ter ganho de peso insuficiente, ser atendida frequentemente em serviços de urgências e a mãe apresentar-se sem suporte familiar e social.
Pelo fato de Sofia ser considerada uma criança em risco, além do acompanhamento mensal na Unidade, onde deve ser realizado o controle de peso, altura, avaliação clínica, seria importante que Sandra frequentasse os grupos de orientação nutricional, conforme sugerido pelo médico Felipe.