Sandra e Sofia
Julie Silvia Martins e Marcelo Marcos Piva Demarzo
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Saúde Mental na Atenção Primária

No caso há uma distinção entre depressão e blues puerperal que deve ser novamente avaliada neste caso, como apresentado no tema Saúde Mental na Atenção Primária. Saber lidar com as demandas relacionadas ao adoecimento mental das pessoas é um desafio para muitos profissionais que atuam na APS.

    Mais da metade das pessoas que procuram atendimento na Saúde da Família tem algum grau de sofrimento psíquico, sendo mais de 30% chegam a adoecer com alterações do humor e/ou de ansiedade. A confluência desses quadros muitas vezes gera uma difícil e artificial distinção entre transtornos depressivos ou ansiosos, de tal modo que esses quadros têm sido chamados, genericamente, de transtornos mentais comuns. Para o manejo desses quadros, muitas vezes não são necessários medicamentos, mas sim intervenções psicossociais (no caso, grupo de solução de problemas), devendo ser associadas à orientação familiar, para que a mãe e o marido de Sandra entendam a condição psíquica em que ela se encontra no momento e possam dar suporte suficiente a fim de que ela possa superá-la, além de ser importante a prática de exercícios físicos, de acordo com as suas condições psicossociais.

É importante também, a partir do conceito de transtornos mentais comuns (TMC), que a equipe discuta conceitos populares distorcidos em relação aos transtornos depressivos, para que esteja preparada para dar suporte adequado aos usuários acometidos, sem estigmatizá-los. É comum, como já dito, a dificuldade dos profissionais da Atenção Primária à Saúde (APS) para lidar com quadros de Saúde Mental, sendo que nessas situações é importante poder contar com o apoio matricial desses profissionais para aprofundar tal discussão, desde que estes estejam sensibilizados pelas particularidades da apresentação dos casos na APS e pelas intervenções efetivas para esse nível de atenção.

O caso também traz um componente comum na relação profissional-pessoa: os movimentos contratransferenciais. Tais fenômenos são comuns, e, no caso em questão, aparecem quando Sandra provoca sentimentos na enfermeira Rita por lembrá-la de uma situação de dificuldade que vem vivendo. Assim, a atuação da enfermeira pode ser prejudicada sem que ela saiba de fato por quê. O contrário também pode acontecer, quando o profissional desperta sentimentos no paciente.

Vale lembrar, no caso de Sandra, da importância de se realizar exame físico e exames complementares, possibilitando avaliar possíveis associações do quadro depressivo com anemia e/ou disfunções hormonais, que podem produzir sintomas semelhantes a um transtorno depressivo.

Sobre o desempenho de Sandra nos afazeres domésticos, é preciso considerar que as mulheres com depressão pós-parto (DPP) apresentam redução do desempenho habitual e que talvez a equipe pudesse, por meio de uma intervenção familiar, buscar apoio com a mãe de Sandra ou alguma vizinha durante esse período mais crítico para ajudá-la, e, com a melhora do quadro depressivo, a equipe também poderia auxiliá-la orientando no manejo do tempo das tarefas e das funções a serem desempenhadas por ela.

Sandra e Sofia também é muito ilustrativo por trazer queixas comuns trazidas nas consultas de crianças: falta de apetite, parada de crescimento, dor abdominal, lesões cutâneas e infecções de vias aéreas superiores. Se não são causas de constantes consultas de demandas espontâneas na APS, esses temas certamente aparecem na rotina, e devem ser de domínio dos profissionais especialistas em Atenção Primária.

Especialização em Saúde da Família
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