Famílias em situação de vulnerabilidade ou risco psicossocial

Ana Cristina Belizia Schlithler, Mariane Ceron e Daniel Almeida Gonçalves

Trabalhando com famílias vulneráveis

Os profissionais da ESF têm contato próximo e cotidiano com as famílias. Do ponto de vista sistêmico, passam a fazer parte do sistema familiar não somente no momento da visita, mas principalmente como referência para as questões de saúde. O agente comunitário pode desenvolver sua atuação fazendo o exercício de olhar as situações "de dentro", como morador da mesma comunidade, e "de fora", como profissional de saúde. Para isso, precisa da ajuda da equipe para ampliar sua capacitação e supervisionar suas intervenções.

A avaliação da condição da família pode ser realizada de várias formas. Existem alguns instrumentos específicos, mas uma entrevista com a maior parte dos membros da família, garantindo-se a presença do principal responsável, pode oferecer muitas das informações necessárias. O fundamental é facilitar a comunicação para explorar as visões de vários membros da família, permitindo que a informação circule e identificando aspectos que revelem dificuldades, conflitos e potencialidades.

Um instrumento que vem sendo utilizado por equipes da ESF é a Escala de risco familiar ou Escala de Coelho, que estratifica itens observados, classificando sua situação de risco com base em dados que já são colhidos pelos agentes comunitários de saúde (COELHO; SAVASSI, 2004).

A Escala de Coelho é uma estratégia desenvolvida em Minas Gerais para a ESF, por meio da qual podemos realizar uma leitura prévia sobre as famílias do nosso território de abrangência. Com base nos critérios de risco identificados na Ficha A (condições de moradia, número de entes etc.), podemos classificar as famílias entre Risco 1, Risco 2 ou Risco 3 (risco leve, moderado ou grave). Com a aplicação da escala em todas as famílias, a equipe passa a ter maior compreensão sobre a relação entre os determinantes de saúde e as situações vividas por elas. Além disso, a escala oferece subsídios para a equipe destinar tempo e metodologias de intervenções diferenciadas, conforme os riscos apresentados pelas famílias de seu território de abrangência, buscando ter uma agenda de prioridades de acordo com o princípio da equidade.

Exemplo de aplicação/aplicabilidade da Escala de Coelho

Quadro 1: Dados da ficha A do SIAB e escore de pontuação de risco / Classificação das famílias segundo pontuação

Dados da Ficha A Escore
Acamado 3
Deficiência física 3
Deficiência mental 3
Baixas condições de saneamento 3
Desnutrição (grave) 3
Drogadição 2
Desemprego 2
Analfabetismo 1
Menor de seis meses 1
Maior de 70 anos 1
Hipertensão arterial sistêmica 1
Diabetes Mellitus 1
Relação morador/cômodo Se maior que 1 3
Se igual a 1 2
Se menor que 1 0
Escore total Classificação de risco
Escore 5 ou 6 R1
Escore 7 ou 8 R2
Maior que 9 R3

Fonte: Escala de Coelho (COELHO; SAVASSI, 2004).


Quadro 2 - Dados da ficha A do SIAB e escore de pontuação de risco / Classificação das famílias segundo pontuação
  Equipe I Equipe II Equipe III Equipe IV Equipe V Equipe VI
  n=190 n=207 n=208 n=195 n=195 n=197
Classificação de risco n (%)
R1 170 (94) 149 (82) 147 (81) 165 (91) 165 (91) 160 (88)
R2 14 (4) 34 (10) 34 (10) 27 (10) 24 (7) 17 (5)
R3 6 (2) 24 (8) 27 (9) 3 (1) 6 (2) 20 (7)

Fonte: Escala de Coelho (COELHO; SAVASSI, 2004).


Especialização em Saúde da Família
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