Famílias em situação de vulnerabilidade ou risco psicossocial

Ana Cristina Belizia Schlithler, Mariane Ceron e Daniel Almeida Gonçalves

A abordagem familiar das famílias em risco psicossocial

Crises e Resiliência familiar

Nenhuma família está isenta de problemas e infortúnios. As crises e eventos estressantes afetam toda a família e apresentam riscos para o indivíduo e para as relações familiares. Como assevera Whitaker e Bumberry, a habilidade em manejá-los é fundamental para o crescimento e a sobrevivência do grupo familiar. Essas crises podem ser previsíveis, estando presentes nos vários ciclos de vida familiar, ou mesmo imprevisíveis, tal como falecimento inesperado de um membro, desemprego, divórcio etc.

Definir a qual ciclo de vida familiar a família pertence é importante, pois ajuda a compreender as principais necessidades da família, trabalhos preventivos a serem desenvolvidos, esclarecimentos sobre as questões específicas do ciclo – auxiliando a família a resolver problemas, ou seja, oferecendo ajuda específica para a fase vivenciada. A partir do princípio da longitudinalidade, observamos as mudanças e a reorganização do grupo familiar na passagem de uma fase para outra, dando apoio segundo as necessidades vigentes (FERNANDES; CURRA, 2006).

São os ciclos convencionais para as famílias de classe média e alta (FERNANDES; CURRA, 2006):

  • adultos jovens independentes;
  • nascimento do primeiro filho;
  • famílias com filhos pequenos;
  • famílias com filhos adolescentes;
  • ninho vazio: a saída dos filhos;
  • aposentadoria;
  • famílias no estágio tardio: a velhice.

São os ciclos convencionais para as famílias de classe popular:

  • família composta de jovem adulto;
  • família com filhos pequenos;
  • família no estágio tardio.

As crises podem desafiar o sistema familiar a aprimorar habilidades e a desenvolver recursos, pois fatores de estresse podem ser potenciais estimuladores de competências. O que distingue a família saudável não seria a ausência de problemas, mas sim a maneira de enfrentá-los e a competência para resolvê-los (WALSH, 2003; 2005).

O conceito de resiliência familiar abrange mais do que a reunião de condições satisfatórias para manejar estresse e suportar ou sobreviver a situações traumáticas ou provações. Envolve o potencial de crescimento e transformação que pode ser desenvolvido nas relações familiares e em seus membros em situações de adversidade. Intervenções focadas no fortalecimento dos processos adequados podem maximizar o potencial para a resiliência que todas as famílias apresentam. Os processos familiares medeiam o impacto do estresse em todos os membros das famílias e em seus relacionamentos, estimulando a resiliência ou aumentando a vulnerabilidade (WALSH, 2003; 2005).

Froma Walsh identifica alguns processos favorecedores da resiliência familiar que podem ser estimulados pelas equipes de saúde (WALSH, 2005):

  • Extrair significado da adversidade. Administração das crises como desafios valorizando relações saudáveis e procurando contextualizar o sofrimento.
  • Perspectiva positiva. Manutenção da esperança, concentração no potencial e enfrentamento do possível.
  • Flexibilidade nos padrões organizacionais. Competência para a mudança e segurança durante a perturbação.
  • Senso de conexão. Capacidade de compromisso, liderança e respeito às diferenças e limites individuais. Busca de reconciliação em relações perturbadas.
  • Mobilização de recursos sociais e econômicos. Família ampliada, redes comunitárias de apoio e segurança.
  • Favorecimento da clareza comunicacional. Mensagens consistentes, esclarecimento de ambiguidades.
  • Estímulo à expressão emocional aberta. Compartilhamento de sentimentos e empatia. Valorização do humor.
  • Resolução colaborativa. Tomada de decisões compartilhada e concentração em objetivos.
Especialização em Saúde da Família
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