Sérgio
Gustavo Gusso


A incerteza, a consulta, a medicina centrada na pessoa e os riscos

Riscos

Segundo Rose (1992), existem atividades de promoção que visam à população; outras, ao indivíduo. Os estudos de rastreamento são de base populacional, portanto não beneficiam o indivíduo diretamente, o que causa grande confusão (falácia ecológica). Para avaliar com qualidade quais ações têm de fato benefício na morbimortalidade, é importante aplicar escalas de risco que tentem separar o indivíduo de uma população. Por exemplo, pessoas hipertensas constituem uma população em risco, porém dentre esta população há aqueles que são hipertensos e diabéticos e, dentre estes, os que são hipertensos, diabéticos e já tiveram um evento cardiovascular. Dessa forma, estratificando populações, consegue-se atingir o risco individual. As ações verticais, como rastreamento para câncer de mama e colo de útero, não fazem isso, encarando todas as pessoas de um determinado sexo ou faixa etária como uma população em risco.

As tabelas de risco mais difundidas são as cardiovasculares, em especial o UKPDS (Perspectiva do Diabetes do Reino Unido, segundo a sigla em inglês)(STEVENS et al., 2001), voltado para pacientes diabéticos, e o escore Framingham (WILSON et al., 1998), sendo que no caso em questão o risco em 10 anos é de aproximadamente 6%, sendo que, se o LDL baixar para 130 ou a pressão se mantiver abaixo de 139 x 89, o risco cai para 4%, ou seja, uma queda considerável. Segundo o Adult Treatment Panel III (NCEP, 2001), o objetivo do LDL para pacientes como Sérgio, um ou menos fatores de risco (Quadro 1) é até 160 (Quadro 2).

Quadro 1 – Fatores de risco que modificam objetivo do LDL (NCEP, 2001)

  • Tabagismo
  • Hipertensão (pressão sistólica > 140/90 mm Hg) ou uso de medicação anti-hipertensiva
  • HDL colesterol baixo (<40 mg/dL)
  • História familiar de doença coronariana (parente de primeiro grau masculino < 55 anos ou feminino < 65 anos)
  • Idade (homem > 45 anos e mulher > 55 anos)
  • Obs.: Diabetes significa equivalente isquêmico e HDL > ou = a 60 remove um fator de risco

    Quadro 2 – Categorias de valores de LDL (NCEP, 2001)

    Categoria de risco LDL alvo (mg/dL)
    Doença coronariana ou risco equivalente (por exemplo, diabetes)". < 100
    Dois ou mais fatores de risco < 130
    0-1 fator de risco < 160

    Como se pode observar nos quadros de risco, nenhum fator de risco leva a um risco maior que o fato de já ter tido um evento, de forma que quem já teve um infarto tem mais risco de ter outro infarto do que quem tem dois ou mais fatores de risco, excetuando diabetes. Ou seja, os pacientes que exigem um controle bastante rígido são os que já tiveram um evento, o que Geoffrey Rose chamava de prevenção secundária.

    Especialização em Saúde da Família
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