Educação em saúde
Adriana Germano Marega Machado e Luciana Coutinho Simões Wanderley

O processo de trabalho e a práxis da EPS

No decorrer desse conteúdo, refletimos como a EPS é transversal a todas as práticas desenvolvidas no âmbito do SUS, e como seu potencial transformador influencia diretamente na organização, na qualificação e na produção de novos e/ou revitalizados "saberes" e "fazeres" em saúde, resultando em um cuidado em que todos se tornam sujeitos e protagonistas de um processo horizontal, político, pedagógico e ético (BRASIL, 2007a).

Nesse sentido, vamos discutir alguns caminhos de como fazer dos espaços de interação e inter-relação entre equipe, gestão e comunidade um processo produtivo no qual a negociação seja a forma mais pertinente de pactuações e decisões, permitindo que as concepções do trabalho e das relações em saúde sejam permanentemente revisitadas.

Desenvolvemos as ações de EPS nos espaços que oportunizamos para ela, em que a interação entre sujeitos nos diferentes ambientes de atuação da equipe se faz acontecer, intra e extramuro da Unidade de Saúde, considerando os princípios da interdisciplinaridade, do saber popular, da intersetorialidade e das potencialidades do território de atuação das equipes.


Os grupos como espaços de construção coletiva

O ser humano nasce, cresce e morre em grupo. No grupo ele aprende, se desenvolve, se modifica, se protege, se arrisca, se identifica e se diferencia. As diversas possibilidades de aprendizagem em grupo favorecem mudanças rápidas e eficientes. A dinâmica grupal permite que os participantes se deparem com muitas formas de viver uma mesma situação, possibilitando um conhecimento amplo e aumentando a experiência de cada componente (ASSIS, 2002).

A realização de grupos educativos, ora na Unidade de Saúde, ora na comunidade, é uma das principais oportunidades para praticarmos a negociação, a corresponsabilização e as relações entre o profissional de saúde e a comunidade por meio da EPS. A formação desses grupos é uma das ações mais comuns, porém mais relevantes das práticas de educação em saúde na ESF.

Um grupo organizado de pessoas se comporta como um "sistema" de engrenagens, que em sua totalidade cumpre sua "funcionalidade", se articula e atua em uma rede de papéis, com o estabelecimento que a partir das relações estabelecem vínculos entre si (VASCONCELOS et al., 2009).

Para a realização dessa estratégia se fazem necessárias algumas considerações:

Essas questões influenciam diretamente na abordagem do grupo, na configuração de propostas, na pactuação e na negociação de ações de saúde e no estabelecimento de compromissos coletivos, resultando em descontinuidade, baixa adesão e falência (VASCONCELOS et al., 2009).

Tais questões também nos remetem à metodologias que por pano de fundo adotam determinadas concepções pedagógicas. A Roda de Conversa, concebida originalmente como formação de espaços orgânicos de relações entre as estruturas de gestão do SUS, se apresenta como estratégia que, nesse sentido, transmite a ideia da condução, de continuidade e de reciprocidade, em que a relação entre os sujeitos se dá de forma horizontal, viabilizando a participação democrática, permitindo a permeabilidade dos diferentes saberes que a integram (BRASIL, 2005).

Nela se convidam todos os integrantes reunidos a se sentarem em círculo (quando o espaço permitir ou o que mais se aproxime do face a face), pode-se usar uma dinâmica de apresentação ou descontração permitindo a integração, o grupo é incentivado a uma determinada tarefa, conduzida pelo(s) profissional(is) a partir dos temas emergidos nas discussões de equipe com a comunidade (espaços das reuniões de equipe, de Conselhos, de lideranças e de situações identificadas pelos profissionais em outras interfaces de interação).

Os objetivos são pactuados e devem ser de comum acordo. Tempo, limite e mediação são necessários, portanto eleger um mediador é importante nesses encontros. O tamanho do grupo também influencia sua condução e resultado, assim é preciso organizá-los por microáreas, por necessidades de saúde, por condições de vulnerabilidade em um número menor de pessoas e em um maior número de grupos, daí o planejamento da equipe ser fundamental para o alcance de objetivos. A lógica dos grupos é a da aprendizagem significativa.

As equipes também realizam outros tipos de grupos como os operativos com finalidade terapêutica. Essa modalidade de grupo é, antes de tudo, uma abordagem teórica, fundamentada na psicologia social do psiquiatra e psicanalista argentino Pichon-Rivière, centrada no processo de inserção do sujeito no grupo, no vínculo e na tarefa. Essa abordagem teórica tem sido muito utilizada, por exemplo, para trabalhar com pessoas que precisam ser preparadas para o autocuidado no manejo de enfermidades crônicas (VASCONCELOS et al., 2009, p. 43).

Especialização em Saúde da Família
Copyright 2012|UnA-SUS UNIFESP