Dona Margarida
Sara Turcotte
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Atenção domiciliar

Sistematização da atenção domiciliar

A falta de sistematização do atendimento domiciliar testemunhada por Joana é uma situação frequente na ESF. Usualmente na rotina da ESF, as coisas acontecem como ocorreu no caso de Dona Margarida, ou seja, uma situação de urgência, sem identificação e planejamento anterior dos usuários que precisam de visitas domiciliares, seja na modalidade de vigilância, atendimento ou Assistência Domiciliar, como você verá na fundamentação teórica. Isso acontece pela falta de valorização que ainda sofre a Atenção Domiciliar, mesmo no âmbito da Atenção Primaria em Saúde. É um fato paradoxal se considerarmos que o domicílio e a família constituem o centro da definição da Estratégia Saúde da Família, como descrito por Egry:

A inserção da família como foco de atuação na política de saúde, como propõe a ESF, entende a família como sujeito do processo assistencial de saúde, definindo o domicílio como um espaço social e histórico onde são construídas as relações intra e extrafamiliares e no qual ocorrem as lutas pela sobrevivência, pela produção e reprodução (EGRY; FONSECA, 2000).

E se considerarmos que as relações familiares influenciam diretamente a forma de adoecer ou permanecer saudável (resiliência), como isso acontece?

Trata-se de um processo institucional inconsciente, mesmo nas pessoas mais bem-intencionadas, devido à fragmentação, à verticalização e ao afastamento do âmbito de vida das pessoas que a medicina e os cuidados de saúde vêm conhecendo desde o início do século.

A tecnologização da saúde trouxe muitos benefícios, mas desviou o âmbito dos serviços da casa para estabelecimentos específicos. Estes se tornaram fortalezas onde os profissionais atendem e foram ensinados a atender e onde se sentem muito mais seguros para aplicar seus conhecimentos, protocolos e orientações, a grande maioria das vezes descontextualizados da realidade das necessidades vividas pelos usuários. Desde nossa formação, estamos acostumados a atender o paciente fora do seu recinto, e ele também. O atendimento em casa pode gerar inseguranças e desconfortos, como se todos os conhecimentos e informações que temos sobre saúde parassem de fazer sentido sendo falados e aplicados fora do consultório. Entretanto, às vezes uma simples visita domiciliar depois de anos de atendimento agendado em consultório consegue nos fazer enxergar dados sobre um paciente que explicam todas as nossas dificuldades em obter sucesso e melhorar sua qualidade da vida.


O planejamento de visitas domiciliares requer o conhecimento das definições e fluxos utilizados para sistematização, o que será detalhado na fundamentação teórica. Nesse sentido, é também importante conhecer os recursos de internação domiciliar e de Assistência Domiciliar externos à UBS que podem apoiar o trabalho, além dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF). Idealmente, esses serviços deveriam complementar, apoiar e acrescentar ao atendimento oferecido pela equipe. Isso pode se traduzir quando esses serviços são integrados, ou seja, quando há participação desses profissionais em reuniões de equipe da ESF para pactuar ou reavaliar em conjunto o plano terapêutico de um paciente.

Ressalta-se também a importância da valorização do conhecimento e da sabedoria do agente comunitário de saúde (ACS), que traz o conhecimento da realidade sociocultural e relacional do local, sendo elemento essencial para otimizar a Atenção Domiciliar na ESF. Assim, seria importante salientar que a responsabilidade do ACS nesse caso poderia ser ampliada a não somente agendar as visitas, mas também a participar ativamente delas para constituir oportunidade de educação continuada. O ACS pode ter cada vez mais habilidade e acuidade na identificação dos casos, olhando para eles não só de forma oportunista, mas também com uma intencionalidade maior, incluindo as prevenções secundária e terciária e o planejamento da Atenção Domiciliar da equipe.

Especialização em Saúde da Família
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