Sérgio
Joel Levi Ferreira Franco


Processo de trabalho e consulta de enfermagem

Processo de trabalho na Estratégia Saúde da Família

Vamos aqui analisar o atendimento de Sérgio, desde o primeiro encontro com a enfermeira Rita até a reunião de equipe em que a ACS Rosalina foi orientada a acompanhar o caso mais de perto.

Na chegada à Unidade, Sérgio foi direcionado para o "acolhimento". Podemos considerar "acolhimento" uma postura inerente à categoria profissional, portanto não é possível classificá-lo como um serviço da Unidade que deva ser executado por um profissional técnico, devendo ser adotado por todos, pois visa "ouvir" com atenção ao outro, não apenas como sentido (audição), mas envolvido na resolução do que ouviu, construindo vínculos fortes com a família.

Sérgio foi atendido após 30 minutos de espera. Mesmo tendo trabalhado a noite toda, o cliente foi atendido pela enfermeira que não se identificou, realizando, após a queixa do paciente, uma série de perguntas.

Nesse ponto, a entrevista que compõe uma das etapas do processo de enfermagem, sendo fundamental para a coleta de dados que conduzem ao processo diagnóstico de elaboração de um plano terapêutico, não foi utilizada pela enfermeira durante o processo, consistindo de perguntas fechadas, não permitindo ao cliente maior oportunidade de contextualizar sua queixa, inviabilizando a comunicação efetiva entre profissional e cliente. A abordagem ampliada durante a entrevista subsidia a coleta de dados para a equipe multiprofissional, obedecendo às especificidades de cada categoria. Após mensurar os dados vitais de Sérgio, Rita identificou uma elevação na pressão arterial e comentou a respeito do peso, já que o IMC do paciente, caso fosse calculado e de acordo com os valores mesurados pela profissional, apontaria 27,7, direcionando-o para o agendamento de uma consulta médica.

Após a consulta médica, outros fatores são identificados: a dor nas pernas, a relação na família... Assim, podemos nos perguntar:

  • Após a consulta médica, outros fatores são identificados: a dor nas pernas, a relação na família... Assim, podemos nos perguntar:
  • O que mais poderia ser abordado com relação ao risco cardiovascular?
  • A orientação com relação à dieta foi suficiente para que Sérgio entendesse os riscos associados à ingestão elevada de sal?
  • A orientação para a prática de exercícios foi compreendida por Sérgio?

A percepção de Sérgio quanto ao processo de adoecimento precisa ser identificada, pois o entendimento muitas vezes é pautado por experiências vividas ou assistidas de alguma forma no contexto familiar no processo de adoecer. Sérgio, que até aquela data não via essa necessidade de serviço de saúde, fez uso de outras estratégias, até que, sem saída, procurou a Unidade. A equipe deve estar sensível a essa percepção, que irá proporcionar um campo de discussão para a adesão ao tratamento. Além disso, havia uma experiência anterior na família, o que o deixou preocupado.


Nossa linguagem influenciará nas decisões do cliente quanto a seguir ou não o tratamento. Embora outros fatores possam contribuir nessa decisão, não basta apenas citar as condutas a serem adotadas: devemos ir mais além, procurar identificar até que ponto ele nos compreende e assim traçar um plano terapêutico, adaptado às condições dele e da família, como verificamos quando Cleide se prontificou a ajudar o marido. Sérgio não aderiu ao tratamento, como constatado no mês seguinte em consulta com Dr. Felipe, sendo solicitada então a consulta com a enfermeira Rita em 30 dias. A consulta de enfermagem ocorre 30 dias depois: a enfermeira aborda com mais detalhes a doença, o tratamento e suas consequências. Aqui, podemos refletir sobre a necessidade de um plano comum de tratamento entre os profissionais.

Considerando os dias decorridos desde o primeiro atendimento, o caso de Sérgio foi discutido em equipe somente após um mês e meio, quando então a ACS Rosalina foi comunicada da necessidade de incluí-lo no Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB) e no acompanhamento da família, bem como no HIPERDIA. Esses dois sistemas de informação dão subsídios para o planejamento do cuidado, bem como possibilitam o conhecimento da realidade epidemiológica da população cadastrada, identificando o número de pessoas em risco e o detalhamento das morbidades no território.

    O HIPERDIA é um Sistema de Cadastramento e Acompanhamento de Hipertensos e Diabéticos captados no Plano Nacional de Reorganização da Atenção à hipertensão arterial e ao Diabetes Mellitus, em todas as unidades ambulatoriais do Sistema Único de Saúde, gerando informações para os gerentes locais, os gestores das secretarias municipais, estaduais e o Ministério da Saúde.
    Além do cadastro, o Sistema permite o acompanhamento, a garantia do recebimento dos medicamentos prescritos, ao mesmo tempo que, a médio prazo, poderá ser definido o perfil epidemiológico dessa população e o consequente desencadeamento de estratégias de saúde pública que levarão à modificação do quadro atual, à melhoria da qualidade de vida e à redução do custo social.

    Fonte: Ministério da Saúde
    (http://portal.saude.gov.br/portal/se/datasus/area.cfm?id_area=807)


A equipe deve monitorar sua população de risco, de modo a efetivar ações de promoção e prevenção. Sérgio procurou o serviço, mesmo pensando ser um "touro" invulnerável à doença, mas qual o papel da Estratégia Saúde da Família na questão das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT)? A equipe tem conhecimento de sua população em risco? Há algum instrumento que possa trazer informações com relação à população cadastrada que esteja em risco? Depois de identificado o risco, qual a atitude esperada dessa equipe?

Especialização em Saúde da Família
Copyright 2012|UnA-SUS UNIFESP