Prática clínica na Estratégia Saúde da Família: organização e registro


Autor: Marcelo Marcos Piva Demarzo, Cristina Alves de Oliveira e Daniel Almeida Gonçalves


Aspectos práticos

Gestão do Processo Clínico Individual e Familiar

Registro Clínico Orientado por Problemas (RCOP)

O registro da história clínica e de vida de cada pessoa e/ou família, materializado na forma de prontuários impressos ou eletrônicos, constitui memória valiosa para o profissional de saúde, além de instrumento de apoio à decisão clínica e à qualidade do cuidado prestado. Os registros ajudam a garantir a continuidade e a longitudinalidade do cuidado, auxiliam na comunicação e tomada de decisão em equipe e permitem um arquivo de dados-base das pessoas e famílias em seguimento, fornecendo eventualmente também dados para investigação científica ou prova para diligências legais (RAMOS, 2008).

Os registros clínicos sofreram uma evolução notável desde a década de 1960. Nesta seção nos aprofundaremos numa forma de registro que consideramos bastante efetiva para a prática clínica em APS, o "Registro Clínico Orientado por Problemas" (RCOP), uma adaptação do "Registro Médico Orientado por Problemas" (originalmente criado para o ambiente hospitalar), e seu componente denominado "SOAP" (Subjetivo, Objetivo, Avaliação, Plano), divulgados em 1968-69 a partir dos trabalhos de Lawrence Weed (RAMOS, 2008).

O RCOP possui três áreas fundamentais para registro das informações clínicas: a Base de dados da pessoa; a Lista de problemas; e as Notas de evolução clínica (notas SOAP)(RAMOS, 2008). Podemos ainda acrescentar um quarto componente, as Fichas de acompanhamento, que resumem os dados complementares mais relevantes e sua evolução (CANTALE, 2003). Se bem utilizado, é um método eficiente para a recuperação rápida das informações clínicas de uma pessoa, garantindo continuidade articulada de cuidados em equipe dentro da APS. É importante termos consciência de, ao utilizá-lo, registrarmos as informações como se não fossem para nós mesmos, mas sim de maneira compreensível para todos os membros da equipe (RAMOS, 2008), e, de maneira ideal, para a própria pessoa que está sendo cuidada. A seguir, detalharemos cada componente do RCOP.

O que é um "problema" clínico?

Antes de tudo, é necessário definirmos o que estamos chamando de "problema" dentro do RCOP. Das muitas definições existentes, apresentaremos aqui duas:

Dentro das duas perspectivas, muitos problemas de saúde são, de fato, diagnósticos classificáveis por sistemas de informação oficiais (como o CID 10, por exemplo), mas em APS, muitos "problemas" são constituídos por outras condições, tais como sintomas, queixas ou incapacidades (WONCA, 2009). Assim, são várias as situações que podem ser enquadradas como "problemas clínicos" no RCOP. No Quadro 1 estão listadas categorias de potenciais problemas que poderiam compor uma "lista de problemas" dentro de um RCOP (CANTALE, 2003).


Cada "problema" ainda pode ser classificado por diferentes critérios: tempo de ocorrência ("novo" ou "conhecido"), duração ("agudo" ou "crônico"), situação ("ativo" ou "resolvido") etc. (CANTALE, 2003).

Algumas condições não se configuram, ou ainda não se configuraram como "problemas", e não deveriam aparecer oficialmente na "lista de problemas", a qual deve ter o máximo de precisão possível (CANTALE, 2003). Alguns exemplos:

A WONCA (Organização Mundial de Médicos de Família) desenvolveu já há algum tempo um sistema de classificação de problemas próprios da APS, o qual pode ser utilizado por profissionais de todas as áreas, incluindo os da ESF, chamado "Classificação Internacional de Atenção Primária (CIAP 2)" (WONCA, 2009). O CIAP permite, além dos "problemas", classificar os "motivos da consulta" e o "processo de cuidado". Pelo CIAP, o problema de saúde poderá ser classificado com relação ao seu estágio, à certeza que o profissional tem do diagnóstico e à sua gravidade (WONCA, 2009). Informações completas sobre o CIAP 2 podem ser encontradas no material de leitura complementar.

Estrutura de um RCOP

Nesta seção, apresentaremos e definiremos cada componente de um RCOP (Base de dados da pessoa, Lista de problemas, Notas de evolução "SOAP" e Fichas de acompanhamento) (CANTALE, 2003).

Figura 3 – Exemplo de lista de problemas (BRASIL, 2003).

O Quadro 3 traz um exemplo de nota de evolução SOAP (CANTALE, 2003).

A abordagem familiar também deve ser de domínio do Médico de Família e Comunidade. Por hora focaremos no registro e no arquivamento das informações no prontuário familiar.

Especialização em Saúde da Família
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