O caso de Dona Margarida nos expõe alguns problemas que têm origem nos tecidos duros e moles da boca, tais como os dentes e o tecido periodontal. Na visita domiciliar, o dentista Érico pôde constatar alto índice de placa bacteriana, cálculo dental, gengivite e periodontite com graus variados de mobilidade dental. Inicialmente, quanto a esses problemas, quais seriam as atitudes a se tomar? A queilite angular citada pode ser resultante apenas da higiene deficiente e da perda da dimensão vertical? Ou algum outro fator pode estar envolvido?
O fato de Dona Margarida apresentar quadro de demência altera muito a sequência do plano de tratamento? De que forma? Não podemos nos esquecer ainda das supostas lesões nos lábios superiores. Embasados no que já foi visto no caso Ilha das Flores e no que foi discutido quanto às lesões cancerizáveis, há a possibilidade de a lesão no lábio superior de Dona Margarida ser cancerizável?
A primeira atitude a ser tomada sempre é atender às emergências das quais o paciente se queixa. No caso de Dona Margarida, são a dor nos dentes e a mobilidade dental, além do sangramento gengival. O dentista realmente precisa encaminhar a paciente para exame clínico completo no consultório, mesmo que haja alguma dificuldade no comparecimento desta à Unidade de Saúde devido aos seus problemas sistêmicos. Após a realização do exame clínico e de exames complementares, tais como as radiografias, Érico poderá saber qual é o melhor tratamento para Dona Margarida.
A realização das radiografias periapicais e talvez uma panorâmica podem trazer um pequeno atraso no tratamento, já que a paciente deverá ser encaminhada para um local específico para a realização desses exames, e nem todas as Unidades Básicas de Saúde (UBS) contam com o aparelho radiográfico. De qualquer maneira, uma adequação do meio pode ser realizada na primeira consulta, com alívio de parte da dor que a paciente está sentindo.
Uma parte fundamental do tratamento odontológico neste caso é a motivação para a higienização bucal, que irá depender em grande parte da família da paciente, já que ela apresenta algum grau de dificuldade para a higienização. O ensinamento de técnicas adequadas de higienização para a família da paciente se faz de suma importância.
Outra questão delicada a ser discutida aqui é a halitose. Trata-se de uma queixa da própria paciente, ou são os familiares e as pessoas com as quais ela convive que sentem o odor? A halitose teria como causa principal os problemas dentários e periodontais, ou poderia haver mais alguma causa? Apesar de a halitose ter outras causas sistêmicas, o tipo e a forma de alimentação também contribuem para seu aparecimento (Dona Margarida faz uso de alimentação pastosa), e a principal causa é de origem bucal, na maioria dos casos.
Concomitantemente ao tratamento odontológico, não podemos nos esquecer da queilite angular apresentada pela paciente. O que você opina? É somente uma consequência da perda da dimensão vertical e da falta de higienização, ou algum outro fator está contribuindo para o seu aparecimento? Poderíamos pensar também numa infecção fúngica? Como seriam realizados o diagnóstico e o tratamento?
Devido ao fato de haver a presença de outras lesões na boca da paciente, será necessário o encaminhamento ao estomatologista (Atenção Secundária). Esse especialista poderá realizar o diagnóstico e o tratamento das lesões do lábio superior e da queilite angular.
Não havendo uma descrição das características clínicas das lesões dos lábios superiores, há uma dificuldade para saber o que elas podem representar. Há uma sugestão no caso da possibilidade de serem lesões cancerizáveis. Como já foi discutido no caso Ilha das Flores, quais são as características clínicas das lesões cancerizáveis? Quais são as lesões cancerizáveis? Como é feito o diagnóstico? Acredito que as informações contidas no referencial teórico do caso Ilha das Flores realmente possam responder às questões acima. Mas podemos incentivar o processo diagnóstico do caso da Dona Margarida.
A queilite actínica é uma lesão cancerizável bastante comum no Brasil. Com base nas informações das lesões de Dona Margarida, seria uma hipótese diagnóstica razoável? Ou poderíamos pensar mais em uma leucoplasia? A queratose irritativa, que não é uma lesão cancerizável, poderia ser também considerada uma hipótese diagnóstica? A queilite actínica acomete mais o lábio inferior; sem dúvida não pode ser abandonada, mas seria mais plausível se as lesões fossem localizadas no lábio inferior. Em relação à leucoplasia, também existe uma grande chance de ser a hipótese concreta. Acredito que a queratose irritativa esteja mais para uma hipótese mais certeira, apesar de o diagnóstico ser realizado por meio de exames mais específicos, como a biópsia. A paciente apresenta má condição dentária, com mobilidade dental e perda de dimensão vertical, o que poderia causar um traumatismo maior nos lábios superiores. O nosso estomatologista tem muitos dados e informações com os quais trabalhar.
Não podemos nos esquecer também de que, após a adequação do meio, a paciente necessitará de reabilitação protética e novamente deverá ser encaminhada à Atenção Secundária para a confecção e a adaptação das próteses, sejam elas totais ou parciais removíveis. A adaptação das próteses em paciente com condições especiais, como é o caso de Dona Margarida, requer um cuidado e um período de acompanhamento maiores, principalmente da equipe da Estratégia Saúde da Família, da Equipe de Saúde Bucal e da equipe como um todo.
A fundamentação teórica deste caso clínico apresenta muitas informações pertinentes às doenças e alterações citadas nesta atividade. Reserve um tempo para lê-la!