Este é um caso fictício, mas que encontramos com muita frequência na Atenção Primária à Saúde.
Paciente na pós-menopausa com queixas de disúria e polaciúria. Além disso, apresenta perda urinária aos esforços (incontinência urinária de esforço – IUE) e grau leve de demência.
Devemos ressaltar alguns pontos importantes. Primeiramente, a discussão da periodicidade das visitas em paciente crônica. Pacientes com doenças crônicas necessitam de uma continuidade de acompanhamento, e não somente quando existe um sintoma novo ou uma descompensação do quadro clínico.
Em segundo lugar, pacientes com mais idade normalmente são cuidados por parentes e, portanto, devemos sempre ter o cuidador junto ao atendimento clínico para obter informações sobre o paciente e para promover orientação de como auxiliar no tratamento. O cuidador talvez precise de mais ajuda que o próprio paciente; no caso de Dona Margarida, a filha dela diz que está muito cansada.
A paciente apresenta queixa de perda da memória (sinais de demência), assunto que será discutido em outro tópico. Tem incontinência urinária de esforço (IUE) de longa data, que deve ser leve, pois tem relação com tosse e esforços (sem mais informações). A IUE é muito comum em mulheres e há um aumento da incidência com a idade, principalmente após a menopausa, devido à diminuição do estrogênio e, como consequência, atrofia de vários tecidos e da musculatura pélvica. A própria IUE pode facilitar a ocorrência de infecção urinária.
A paciente apresentou vários episódios de infecção de urina, os quais devem ser acompanhados para verificar o fator desencadeador, como higiene, hábitos de manter a bexiga cheia, doenças concomitantes com diabetes etc.
De acordo com o caso, a paciente não é avaliada pela equipe há mais de um ano, o que demonstra não adesão da paciente ou mesmo falha do atendimento da equipe de saúde.
Dra. Joana observou no primeiro momento queixas de infecção de urina (disúria e polaciúria) e indicou tratamento com antibiótico por sete dias. Devemos após o tratamento da queixa de urgência acompanhar a paciente para verificar as possíveis causas de infecção. Também devemos solicitar cultura de urina para verificar se o tratamento foi eficaz, pois sabemos que pode existir resistência de algumas bactérias a certos antibióticos.
Quanto ao quadro de incontinência urinária, é importante conhecermos um pouco de sua fundamentação teórica: é definida como a perda involuntária de urina que leva a um problema social/higiene para seu portador. O processo de envelhecimento do sistema urinário cursa com alterações em sua morfologia e função, como a hipertrofia dos músculos da bexiga, reduzindo a sua capacidade de expansão e armazenamento (300 ml), o que resulta no aumento da frequência urinária durante o dia e a noite. Ocorrem alterações na fisiologia renal com mudanças no controle neural do ato urinário, tornando ineficiente o esvaziamento da bexiga, e com o enfraquecimento dos músculos, o que pode promover a retenção de grandes volumes de urina. A retenção urinária predispõe os idosos ao aparecimento de infecção no trato urinário. A eficiência da taxa de filtragem da urina pelos rins diminui com a idade, afetando a capacidade do organismo de eliminar fármacos, glicose e outras substâncias. A avaliação do distúrbio miccional pelo paciente e/ou pela pessoa que cuida deve constar da entrevista, perguntando sobre frequência, continência, se há dor e características da urina e como ocorre a eliminação intestinal. Também devem constar os antecedentes obstétricos, cirurgias pélvicas, tabagismo, etilismo, doenças coexistentes, medicações em uso, desempenho cotidiano e grau de dependência e o impacto psicológico e social do sintoma na vida do idoso/cuidador (ELIOPOULOS, 2011; SMELTZER et al., 2009).
Após uma história benfeita, devemos proceder uma avaliação clínica através de exames de urina e de sangue (dosagem da glicemia, ureia e creatinina séricas). Em unidades especializadas, são realizados exames urodinâmicos, tendo como básicos: urofluxometria (avalia o fluxo urinário), cistometria (avalia a função da bexiga) e eletromiografia esfincteriana, e como complexos: medidas simultâneas de bexiga, uretra e reto em repouso, com esforço e durante a micção. Uma avaliação ambiental também é importante, constando de: investigação da proximidade do banheiro (iluminação, acesso), altura da cadeira/do vaso sanitário (40 cm) e para quadril rígido ou doloroso (suporte de plástico ou metálico) e roupa que facilite a independência do idoso em ir ao banheiro.
As incontinências urinárias (IU) permanentes podem ser classificadas da seguinte forma:
Além do diagnóstico e das orientações médicas em relação à incontinência urinária, a enfermeira exerce importante papel e deve implementar cuidados de enfermagem de acordo com os diagnósticos de enfermagem (NANDA). São eles: