Conforme o apresentado no caso, Sérgio apresenta fatores para aumento do risco cardiovascular, tais como:
Assim, podemos classificá-lo como portador de Síndrome Metabólica (SM), que não é propriamente uma doença, mas uma associação de doenças, ou de fatores de risco cardiovasculares que aumentam a chance de ocorrência de eventos como:
Síndrome metabólica
A primeira dificuldade que notamos em relação à síndrome metabólica é a ausência de um conceito universalmente aceito. Entretanto ainda existem dúvidas se o diagnóstico da SM acrescenta valor prognóstico para a doença cardiovascular, quando comparada à análise individual dos fatores de risco que a define.
Do ponto de vista prático, sugere-se o proposto pela International Diabetes Federation (IDF), que utiliza critérios de fácil obtenção, como podemos verificar no Quadro 1. Com esses critérios, podemos detectar um grande número de pessoas com maior risco de desenvolver diabetes e doença cardiovascular, e, portanto, atuar na prevenção. Um estudo conduzido na cidade de Bauru-SP, utilizando os critérios da Organização Mundial de Saúde para SM, detectou sua presença em 55% da população, o que dá a grandeza do problema.
Quadro 1 – Definição de síndrome metabólica (IDF)
Cintura abdominal aumentada com mais dois dos seguintes fatores:
Especificidade da cintura abdominal e etnia
Homens (cm) | Mulheres (cm) | |
Europídeos | 94 | 80 |
Sul-asiáticos/Chineses | 90 | 80 |
Sul-americanos/africanos | 90 | 80 |
Japoneses | 85 | 80 |
* ou tratamento para dislipidemia e pressão arterial.
Disglicemia
A disglicemia é definida como uma alteração na glicemia que, embora não corresponda aos critérios diagnósticos de diabetes, encontra-se com níveis elevados em relação à normalidade (Quadro 2). Pode ser dividida em glicemia de jejum alterada e intolerância à glicose, sendo ambas preditoras para ocorrência de Diabetes Mellitus e doenças cardiovasculares.
Quadro 2 – Diagnóstico de disglicemia
Glicemia (mg/dL) | |
Em jejum: 100 a 125 | Glicemia de jejum alterada |
2 horas após 75 gramas de glicose via oral > 140 mg/dL e < 200 mg/dL | Intolerância à glicose |
A intolerância à glicose é mais frequente nos indivíduos obesos e se associa a outros fatores de risco cardiovasculares, como resistência insulínica, dislipidemia e hipertensão arterial, ou seja, uma descrição que lembra nosso paciente Serjão. Outras causas que podem levar à disglicemia são os medicamentos, tais como betabloqueadores, o ácido nicotínico e os diuréticos tiazídicos.
No caso estudado está indicada a realização de um teste oral de tolerância à glicose (TOTG) com 75 gramas para classificarmos corretamente seu grau de anormalidade em relação ao metabolismo da glicose. Além das disglicemias, as situações mais comuns com indicação para investigação de diabetes são:
A seguir podemos verificar a interpretação de um teste oral de tolerância à glicose:
Quadro 3 – Diagnóstico de anormalidade no metabolismo da glicose após TOTG
Glicemia (mg/dL) | Jejum (mg/dL) | Após 120 minutos (mg/dL) |
Glicose jejum alterada | >99 e <126 | < 140 |
Tolerância diminuída à glicose | < 126 mg/dL | >140 e < 200 |
Diabetes Mellitus | ≥ 200 |
Estudos epidemiológicos e experimentais mostram que alterações na glicemia, inferiores aos valores diagnósticos de diabetes, predispõem à aterosclerose e aumentam o risco cardiovascular. Assim, as alterações no estilo de vida, como realização de exercícios regulares, dieta e perda de peso e controle da dislipidemia, são de importância fundamental para a redução na velocidade de progressão para o diabetes. Em relação aos medicamentos para controle da glicemia, os trabalhos clínicos demonstraram ação em relação à metformina, à orlistate e à acarbose, mas não superiores às mudanças no estilo de vida.